Ainda não percebi lá muito bem porque é que os pais lá para as décadas de 70 do século passado, quando decidiam a concepção de uma criança, esqueciam parte do futuro do seu lindo e adorando rebento.
Falo do nome, a escolha desse importante e decisivo substantivo próprio de carácter. Os nomes das crianças (hoje em dia adultos), das modas (tão lindas), os Paulos, Migueis, Joões, Anas, Marias, Alexandras, Catarinas, Susanas, Martas, Luíses, Tiagos, Nunos, Vanessas e as Rubinas da escola...
O orgulho dos pais no acto escolher o nome que marcará para todo o sempre, essa grande responsabilidade, foi e ainda por vezes é esquecida muita das vezes por meros egoísmos de mamãs e papás desta nossa sociedade em constante movimento e de querer executar caprichos burgueses, nada mais.
Durante muitas décadas, era essencial colocar na criança um nome composto, além de servir de modo repreensão (mãe que é mãe gosta de chamar o Carlos Manuel e a Ana Cristina à razão só pela afirmação ríspida do nome próprio, é quanto basta!), além disso, o nome composto também joga muito bem como castigo, senão vejamos, lembro-me tão bem, quando estava a aprender a escrever o meu lindo composto e bem completo nome, o vizinho do lado, mais novo que eu também o fazia, no entanto notava que era muito mais rápido e não era por ser burra ou limitada... até poderia ser o que não vem aqui ao caso (mas não era), a minha demora deveu-se apenas porque enquanto o garoto tinha apenas 3 nomes para aprender a soletrar, aqui a princesa... tinha o número de 7. Assim, e às vezes como catigo poderia ter de escrever o meu nome completo correctamente 100 vezes, o que poderia ser uma tarefa de uma tarde inteira até escurecer sem brincar, muito menos ver um bocadinho dos educativos desenhos animados que outrora passavam na TV nacional. E nem vou mencionar a junção caricata, a roçar ao idiota puro dos nomes que tanta gozação dão para todo um ano lectivo, as Sónias Cristinas, as Carlas Isabeis, as Lauras Joanas e as Cátias Sofias. Deixo esse trauma para outra altura...
Vamos lá em frente, quando cheguei à primária essa adrenalina diária de necessidade de aprendizagem e sofreguidão de inserção social, tinha propensão para uma ligeira tendinite crónica de cansaço, o meu terror nos primeiros dias de aula não era, se fazia amigos ou não, era sim, os malditos boletins dos professores, aquelas fichinhas básicas que tínhamos de preencher todo o santo ano, por cada disciplina.
No final da primeira semana de aulas só já escrevia em linha recta sem parar nas boxes, mas amigos com nomes curtos... tinha para dar e receber. Eu inveja-os tanto, as suas singelas assinaturas, a rapidez a escrever o nome na folha de presença rápida e eficaz... Toda uma simplicidade que eu desconhecia e não podia aprender... Ainda hoje, conto os quadrados nos formulários à espera que o nome caiba, o que vale é que agora, adulta... já posso rubricar e não ter de escrever todos os nomes dos meus antepassados mais recentes.
Se um dia tiver uma criança, até poderá ter nome composto, só para eu poder chamar à atenção, como má/autoritária que sou, mas depois disso, só tem espaço para mais um substantivo e curto de preferência.
6 comentários:
Very huge problem indeed. E quando começavam a fazer a chamada não se sentia mal por não ser a 1ª da lista??
Não, mas devia Rui?
Não, era apenas uma curiosidade. Eu achava isso uma injustiça, daí nessa altura achava que quando tivesse um filho ia-lhe chamar qualquer coisa como Aabel para ser sempre o primeiro na chamada...
O pior é se ele for tímido, vai querer sempre que a chamada seja feita ao contrário.
A minha mãezinha não me deu segundo nome e eu, se falasse à altura, tinha agradecido. No entanto, ironia da vida, o meu primeiro apelido pode ser um segundo nome rebuscado.
Bandalha, essa ironia.
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