sexta-feira, julho 24, 2009

Quotidianos logísticos

"Amar-te-ei com intermitências num amor incorruptível", disse-lhe enquanto colocava o prato na mesa com macarrão cozido em molho de tomate maduro. Logo percebeu, que faltava a rúcola no seu almoço de final de semana. Negligente, procura na dispensa individualizada de alimentos, algo que possa garantir a refeição perfeita, até mesmo o naco de parmesão italiano falhou... "Amar-te-ei, doce tentação, mas de momento tenho de ir à charcutaria. Lanchamos?"
Ela sorri serenamente, roendo um pêssego amarelo, imaginando que seria muito melhor se tivesse mesmo acontecido assim...

terça-feira, julho 14, 2009

Balbo-te

Articulo o desamparo de beijo na latitude norte, dita distância angular contada, para um lugar designado vivacidade de espírito. A verdade é que o homem comum não pode viver em qualquer latitude, tem de apontar os pontos cardeais que conhece na luneta barroca ajustando a perfeita cançoneta para sentir os detalhes do  seu próprio esplendor.

domingo, julho 12, 2009

Logo à noite na RTP2

Um dos melhores documentários sobre a decadência aristocrática e a loucura de filosofia das grandezas - Grey Gardens.  

Com selo da Criterion Collection, a não perder.

quinta-feira, julho 09, 2009

A Fábula da Ostra & do Arenque


Vivia a ostra bela e ajuizadamente numa rocha. Não sonhava com o amor, mas quando fazia bom tempo ficava boquiaberta, na maior beatitude possível. Encontrou-a porém o arenque, e foi uma paixão à primeira vista. Ficou perdidamente enamorado sem se atrever a confessar-lho. Ora num dia de Verão a ostra bocejava feliz e queda. Encolhido atrás de um rochedo o arenque contemplava-a mas, de súbito, beijar a bem amada foi um desejo tão forte que nem pôde refreá-lo. Meteu-se então entre as placas abertas da ostra e esta, surpreendida, fechou-as decapitandoo o miserável que flutuou à deriva e sem cabeça, pelo oceano... Guillaume Apolinaire, "O Poeta Assassinado", tradução de Aníbal Fernandes, Estampa, 1983 

terça-feira, julho 07, 2009

Quero ver até onde vai o meu Verão

500 Days of Summer 

Há coisas que não lembram ao carteiro,

Acredito que os meus encontros com o estafeta dos correios lá nas bandas dos salões da Penha já não sejam meras coincidências, pois claro, há mais é que tirar os pensamentos comuns dos restantes mortais, e falar com a minha Rita-faz-tudo dar um fim nisto (afinal afirma-se como uma nova mãe dos tempos tecnológicos), e colaocar um ponto final no rapazola anda a rondar em demasia a área finita da caixa do correio que me diz respeito. Entregas de material ou publicidade? Desconheço que tenha mais do que a velhota do nº 7 que passa o dia no parapeito da janela à espera de correspondência esquecida. 

segunda-feira, julho 06, 2009

sexta-feira, julho 03, 2009

Balada ao mimo, em noite de lua nova

Numa resposta ao que a mulher quer, encontrei uma leve sugestão na minha mente como quem entra em casa abandonada, mal vivida e com leve cheiro a bafio. É de facto uma honra partilhá-la com quem gostamos, aos nossos olhos muitas vezes está limpa e arranjada, pronta para visitas, mas, quando servimos a bebida da praxe percebemos que os copos não estão lavados, o chão não foi varrido, a mesa ainda tem os restos de um jantar dado ainda chovia muito e a conta da luz foi esquecida. Aparece o medo e a vergonha... 
Queremos subitamente ser melhor que a aquela vizinha do prédio em frente, que tem um bom par de mamas, um cabelo impecável, que bebe um copo alto de vinho toda nua de persiana aberta, um sorriso invejável e possui último par de sapatos da colecção Prada que não se estragam na calçada portuguesa. Queremos ser melhor, e esquecemos que a vizinha também nos olha com o mesmo desdém. Essa crueldade feminina que move na crítica pura do alheio, valorizando menos o que temos procurando estar em alerta vermelho para o que há à volta.
Então o que é que uma mulher realmente quer? Para além da clássica família com cão e jardim? 
Quer ser amada com a razão, sem ser molestada com apaparicanços?
Ninguém sabe, nem sequer a mulher, pois é um ser que desconfia até da cor do verniz que coloca, achando que se calhar a "outra" (genérico para o gajedo em geral) poderá ter uma cor mais audaz que vai fazer melhor figura. 
No fundo, a mulher quer mimos, porque esquece-se de mimar. Reconhece que por mais independente, correcta e responsável que seja, gosta de sentir um abraço no meio da noite, uma flor no WC antes do duche ou um bilhete à tarde com uma proposta irrecusável, mesmo, que tenha de ir buscar os pequenotes à creche, vai aceitar num ápice com um sorriso de menina envergonhada. 
O que a mulher quer, é ser surpreendida, não todos os dias, mas perceber que é especial e valiosa, mesmo que seja a vizinha podre de boa, a confiança esmorece quando não tem a atenção devida.

Poder dizer, aqui, com toda a loucura a rondar com estas palavras sem recheio de morango, valor acrescido, ou peso morto, no fundo deixaram de ser Palavras, apenas são minhas, expostas de forma aleatória numa vitrine bem iluminada sem promoções de época.